O laço nos tempos que correm
O encontro entre capitalismo e ciência não demonstra pudor ao forcluir tanto o impossível quanto as coisas do amor. Em 1972, em uma conferência realizada em Milão, Lacan percebia que o discurso dominante já era o discurso capitalista, o qual “não poderia andar melhor, mas, justamente, anda rápido demais, se consome, se consome tão bem que se consuma”[1]. A pretensão hegemônica do discurso capitalista, contudo, coloca um problema de ordem ética: uma vez que o discurso capitalista não promove a formação de laços, como pensar o agir comum humano sob seu jugo? Quando se crê que o objeto da satisfação está diretamente acessível entre os bens de consumo (enquanto uma recuperação de das Ding?), como a palavra pode produzir alguma retificação subjetiva? Como as elaborações da clínica psicanalítica podem chegar ao Outro social e ressoar sem que, nesse trajeto, se perca o fio de sua lâmina cortante? Desse modo, antes de propor uma ética para consumidores, caberia perguntar: o que é um laço social para a psicanálise? Trata-se de uma forma de regulação do gozo que, ao acomodar algo da singularidade de cada um, não se aplasta no todo? Mas como pensar o laço para além da lógica da massa? Como seria possível manter um laço levando em consideração as presentificações do gozo e aquilo que, vez e outra, excede às normatizações? Com um pouco de vergonha? Amor? Mas além disso, se “só o amor permite ao gozo condescender ao desejo”[2], isto é, se o amor é aquilo que possibilita o laço entre gozo e desejo, o que acontece com o desejo de sujeitos cuja dimensão da falta é negada? Como esses elementos tão influentes no viver-junto podem ser convocados pelo psicanalista sem que ele reduza seu bem-dizer ao rito vazio ou mesmo às expressões da mestria? Nesse horizonte problemático, é possível construir um laço sem levar em conta aquilo que vem como resto – como objeto dejeto? Essas são, portanto, algumas das questões em torno das quais trabalharemos ao longo deste ano de 2024.
- Coordenação: Diego Cervelin e William Leiria
- Inscrições: cervelin.diego@gmail.com
- Encontros nas 2as e 4as quintas-feiras de cada mês, às 20h30, na sede do ICPOL-SC (modalidade online disponível apenas para participantes não residentes em Florianópolis).
- Encontros:
- Março: 22 (excepcionalmente) e 28
- Abril: 11 e 25
- Maio: 09 e 23
- Junho: 13 e 28 (excepcionalmente)
- Julho: 11
- Agosto: 8 e 22
- Setembro: 12 e 26
- Outubro: 10 e 24
- Novembro: 14 e 28