Ateliê de Leitura do Seminário 14 – A Lógica do Fantasma
Responsável: Ruberval Silva
Justificativa:
Partiremos da escrita que já estabeleci acerca disso, a saber a fórmula ($< >a), a ser lida como “S” barrado, punção a minúsculo.
Lembro que nessa fórmula o $ representa – ocupa o lugar de – isto que ele devolve em relação à divisão do sujeito, que se encontra no princípio de toda descoberta freudiana. Ela consiste no fato de que o sujeito está por um lado barrado do que o constitui propriamente como função do inconsciente (LACAN, 2024, p.12)
Nessa passagem do seminário 14 já é possível verificar a relevância do conceito de fantasma e sua relação com o inconsciente. O sujeito dividido não se percebe imediatamente como uma função do inconsciente; ao admitir o inconsciente, necessariamente a relação deste com o sujeito barrado será mediada pelo fantasma que será fundamental para a articulação da realidade. A forma de articulação do fantasma, em um certo sentido, irá apontar para os modos de estar no mundo que o sujeito assume ao longo de sua vida. O fantasma como instância singular e privilegiada da construção do laço social.
De um modo geral, a fórmula do fantasma mostra a relação assimétrica entre o sujeito do inconsciente, dividido constitutivamente pelo significante, e o objeto inapreensível do desejo situado no campo do Outro. O matema já marca que o fantasma – no contexto do seminário 14 – pertencerá a uma estrutura significante, o que o diferencia da ideia geral de fantasia classicamente situada como uma atividade da imaginação.
Diante da pergunta “Que queres?” o fantasma irá se constituir como um cenário a partir de onde o sujeito poderá formular respostas a respeito dos paradoxos do gozo e do desejo, servirá também como defesa diante do real, como uma tela opaca – um filtro que funciona como um escudo diante do real. Instância singular da constituição da realidade entendida como uma banda de moebius – onde há uma permeabilidade entre o dentro e fora o que aponta para uma ideia de extimidade.
É a partir do fantasma inconsciente que o sujeito irá organizar toda sua vida psíquica – sua realidade propriamente dita. Diante dessa formulação, espera-se que ao longo de uma análise haverá uma articulação entre sintoma, gozo, satisfação imaginária e fantasma. Talvez seja possível dizer que será a partir do fantasma – paradigma que organiza a vida subjetiva – que o sujeito irá formular o sintoma analítico sob a forma de uma pergunta dirigida a um outro. No fundamento dessa pergunta haverá uma operação lógica (que pertence ao significante) que implicará o sujeito na sua própria divisão; essa operação quando explicitada sinalizaria uma possível entrada no processo analítico na medida em que ela carregará em si a questão “que queres?”. O sentido de “operação lógica” aponta para aquilo que pode ser falado e formulado pela lógica do significante e que sempre o é de forma incompleta – parece haver uma entrada aqui para a articulação entre saber e verdade em um contexto amplo onde a possibilidade de metalinguagem é eliminada. Dessa incompletude segue a relação fantasma-gozo, fantasma-real, fantasma-sintoma. . .
A formulação acima justifica em linhas muito gerais a importância do conceito de fantasma – como um artefato significante construído em análise – e sua relevância clínica; além de justificar também o desejo de conversar a respeito.
Referências
Lacan, J. O seminário, livro 14: A Lógica do Fantasma. (1966-1967) Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Rio de Janeiro: Zahar, 2024.
Miller, J.-A. Sintoma-Fantasma. In: Opção Lacaniana, n. 88, abril de 2024.
Miller, J.-A. Proposição sobre lógica do fantasma. In: Opção Lacaniana, n. 88, abril de 2024.
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