Psicoses e autismos na infância: singularidades na clínica psicanalítica.
No ano de 2023 o NPP dedicou-se ao estudo da melancolia na clínica atual, sob uma perspectiva estruturalista e borromeana. A partir da pesquisa realizada, um aspecto teórico nos demandou especial atenção, a importância fundamental da identificação na constituição subjetiva e sua particularidade na melancolia em Freud e Lacan. Muitas questões surgiram. Em muitos momentos de nosso percurso nos perguntamos qual seria a especificidade da identificação em outros tipos clínicos da psicose e também no autismo. Com relação a esse último, uma das questões que nos produziu interesse foi a compreensão de que seu estudo permite examinar mais de perto aspectos fundamentais da constituição subjetiva, como o ser vivente recebe o impacto de lalíngua e se inclui no Outro (Tendlarz, 2017, p. 1).
Indagações sobre o que acontece no estádio do espelho em cada tipo clínico da psicose e no autismo, foram recorrentes em nossa discussão. Sobre a experiência do espelho, Lacan menciona uma cena particular que situa como paradigmática na constituição do eu ideal no espaço do Outro (Lacan, 1962-1963/2005, p. 135). Trata-se do momento em que a criança vira a cabeça para o adulto atrás dela e com um sorriso tenta comunicar as manifestações de seu júbilo, por alguma coisa que a faz comunicar-se com a sua imagem especular (1962-1963/2005, p. 135). O que seria essa “alguma coisa” que ocorre entre a retificação que a criança recebe do Outro e a comunicação com a própria imagem? Foi este momento característico que gerou as perguntas que poderiam nos orientar na pesquisa deste ano: o que acontece na psicose e no autismo? Seria o autismo uma quarta estrutura ou um tipo particular de psicose?
Uma outra questão despertou também nosso interesse em estudar este tema: a epidemia diagnóstica em torno do que, na cultura, a partir do último DSM, convencionou-se chamar de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em nossas clínicas, não só nos consultórios particulares, mas sobretudo nos serviços públicos, temos presenciado cotidianamente uma demanda que cresce de forma alarmante, oriunda de famílias de crianças e também sujeitos adultos que buscam avaliação e “reabilitação” para o diagnóstico de autismo. Observamos que cada vez mais se fala de autismo sem se saber muito bem o que é. Como consequência, os debates se cristalizam em torno de recomendações emitidas pelas burocracias sanitárias, conforme assinala Laurent (2014). Este fenômeno tem convocado os psicanalistas a pensar não só a pertinência clínica, mas a relevância política de estudar o autismo diante deste cenário que tende a construir universais em que o autismo é tomado como um déficit social irreparável, apenas suscetível de ser treinado para adquirir habilidades. Nesse horizonte, não há lugar para o sujeito e nem para tratamentos singulares a partir daquilo que pode surgir como único em cada um. Esta “epidemia” nos convoca a pensar também sobre a especificidade do diagnóstico, sob transferência, para a psicanálise de orientação lacaniana. Quais as diferenças clínicas e teóricas nas psicoses e no autismo desde uma leitura estrutural e nodal?
Tocados por estas questões e ainda dentro da perspectiva de que a clínica com crianças é extremamente elucidativa para compreender a clínica com adultos, lançamos nossa proposta de trabalho para 2024.
Encontros
- Inscrições: montenegroveronicapaola@gmail.com
- Início: 25 de março
- Datas: 2as e 4as segundas-feiras de cada mês
- Horário: 20h às 21h30.
- Coordenação: Sandra Cristina da Silveira
- Equipe: Mariana Zelis, Verônica Paola Montenegro, Mauro Agosti
- Modalidade: Presencial (moradores da Grande Florianópolis). On-line (moradores de outras regiões).
- Cronograma:
- Março: 25
- Abril: 8 e 22
- Maio: 13 e 27
- Junho: 10 e 24
- Julho: 22
- Agosto: 12 e 26
- Setembro: 9 e 23
- Outubro: 14 e 28
- Novembro: 11 e 25